sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A evolução dos flanelinhas


Já falamos aqui no blog sobre o surgimento dos flanelinhas no Brasil. Abaixo segue uma versão não oficial feita em uma crônica publicada na revista Veja SP:


Fiquei pensando nos flanelinhas. Eles não chegaram de repente como gafanhotos, não foi uma onda. Vieram vindo. Há uns 45 anos, ou mais, a classe média que começou a comprar automóvel lavava o carro na porta de casa. Não havia lava-rápido. Sábado e domingo de manhã eram dias de lavar carro no portão. Alguns davam um brilho com cera e se afastavam uns passos para admirar a beleza. Quem podia lavava no posto. Os ricos tinham motoristas que faziam isso por eles.

Começaram a aparecer uns rapazes esforçados, com baldes e panos, nas ruas, praças e outros locais onde os carros estacionavam.
“Quer lavar, doutor? No capricho”.

Por uns trocados, lavavam o carro. Você estacionava, ia fazer suas coisas e quando voltava o carro estava “jóia”, “joinha”. Com o tempo, o preço começou a subir, o serviço passou a ser fracionado: podia-se lavar só os pneus, com escova e sabão, e óleo queimado depois, para ficarem brilhando; podia-se lavar só os vidros e os cromados; ou fazer uma “completa”. Os lavadores de carro foram aumentando, já identificados mais pela flanela na mão do que pelos baldes e panos, e rivalizavam e brigavam entre si. Para atrair os motoristas, que cresciam rapidamente em número, eles disputavam vagas agitando a flanelinha, ajudavam nas manobras. Passado mais algum tempo, e multiplicado o número de carros, a briga passou a ser pela vaga, não pelo serviço. Vai perguntar hoje se algum flanelinha quer lavar o seu carro... Nem flanela eles usam mais. Organizaram-se em gangues. Com a multiplicação dos furtos de carros e nos carros, a função deles mudou, oferecem-se como guardadores.
“Quer que olhe, doutor?”

Ai de você se não quiser. Antes, a paga podia ser um trocado, agora tem preço fixo alto, dependendo do lugar e do evento. Nem por isso o seu carro está guardado. Alguns fazem que não veem os ladrões, outros se associaram a eles.
A praga dos guardadores de carros espalhou-se pelo país. Um dia, numa pequena cidade histórica de Minas, estacionei o carro no largo da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Logo veio um menininho, miudeza de seus 8 anos:
“Pode olhar o carro, moço?”
Brinquei:
“Nossa Senhora já está olhando.”
E ele, mineirinho:
“Eu ajudo ela.

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