Com a profissão legalizada no Distrito Federal, cerca de 1.650 guardadores e lavadores de carros estão cadastrados pela Seops (Secretaria da Ordem Pública e Social). Muitos, no entanto, atuam na ilegalidade no centro de Brasília. Só de janeiro a maio deste ano, 279 flanelinhas foram presos acusados de exercício ilegal da profissão e 55 deles já tinham passagens pela polícia por outros crimes.
Além dos crimes de extorsão, ameaça, dano ao veículo e agressão física, é comum ver esses profissionais delimitando territórios, cobrando mensalidade e muitas vezes furtando água pública ou de prédios que ficam próximos aos estacionamentos, segundo a própria secretaria.
De acordo com a secretaria, o crime mais comum entre eles é o exercício ilegal da profissão, que prevê pena de 15 dias a três meses de cadeia ou multa.
O presidente do Sindglav (Sindicato dos Guardadores e Lavadores de Carros), Valdivino Diogo da Silva, reconhece o problema mas diz que quem age ilegalmente é uma minoria. Ele esclarece que o termo "flanelinha" não pode ser atribuído a quem está regularizado.
— Nós não somos flanelinhas. Flanelinha é quem não tem registro, quem trabalha de forma irregular. Quem é cadastrado e está em dia, é lavador ou guardador de carro. Nosso sindicato trabalha para essa categoria. Temos registro, treinamento e somos qualificados para isso.
Para resolver o problema, Valdivino acredita que é necessário um mutirão integrado de esforços e debates entre autoridades e categoria.
— Prender não vai resolver o problema, porque um dia depois a pessoa é solta. Nós temos mesmo é que fazer um mutirão, juntar com a Seops, Sedest (Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda), Polícia Civil, Polícia Militar, representantes do GDF. Temos que juntar todo mundo, colocar em pauta os problemas, as vantagens e quais medidas devemos tomar para solucionar de uma vez por todas. Quero mesmo resolver e legalizar tudo isso de uma vez por todas. Acho que somente assim poderemos combater de fato quem não merece estar trabalhando e representando a nossa categoria.
Ameaças
Os guardadores de carro só estão aptos a atuar se estiverem cadastrados e identificados com crachá e colete. Para o presidente do sindicato, é preciso ficar de olho se o guardador está identificado com crachá, já que o colete pode ser facilmente furtado.
— É comum ver gente emprestando colete para outras pessoas, terceirizando o serviço. Alguns perdem, são roubados. O fato é que muita gente usa de maneira irregular o colete. Além disso, é obrigatório o uso do crachá, que tem a foto e todos os dados do trabalhador. Muitos não usam e isso deve ser conferido pelo motorista. É mais uma forma de segurança. Quem se sentir ameaçado por qualquer motivo, deve acionar a polícia, porque é somente ela quem pode prender, fiscalizar e aplicar a lei verdadeiramente nestes casos.
É comum ver guardadores disputando espaços e dividindo clientes nas ruas da área central de Brasília. A comerciante Jussara Diniz, de 38 anos, trabalha no Setor Comercial Sul há dez anos e diz que os guardadores fazem uma verdadeira "bagunça" no local.
— Eles não são qualificados para dirigir, manobrar os carros e não vigiam direito. Não confio, porque meu carro já foi arrombado aqui. Se o serviço deles é vigiar, poderiam ter evitado esse problema que me causou um enorme prejuízo. Não entrego mais a chave do meu carro nas mãos de ninguém, prefiro eu mesma guardar.
Ela conta que já sofreu retalizações por que não pagou pelo serviço.
— Há dois anos, um dos guardadores arranhou meu carro e furou o pneu, porque eu não tinha como pagar. No dia seguinte, ele ainda me ameaçou e disse que quem trabalhava de graça era relógio. Chegou a avisar que era bom eu achar uma forma de ajudá-lo, para não ter maiores problemas.
Pagamento voluntário
Valdivino esclarece ainda que a demarcação de área pública não é permitida e o pagamento, também segundo o sindicalista, é voluntário e o valor não pode ser estabelecido pelo guardador.
— O estacionamento é um bem público. Ninguém pode delimitar área, porque não pertence a ninguém. Ninguém pode te obrigar a pagar. Nesses casos, deve-se chamar a polícia, porque se for um profissional legalizado ele não está apto a exercer a profissão.
A Seops reafirma que ninguém é obrigado a aceitor os serviços de guardador, manobrista ou lavador de carro. Aqueles que se sentirem ameaçados devem, com cautela, acionar a polícia pelos telefones 190 e 197.
Em nota, a Seops disse que os guardadores flagrados em atividade sem autorização são imediatamente levados à delegacia, onde têm sua ficha criminal verificada e, em seguida, são liberados depois de assinar termo circunstanciado pelo exercício irregular da profissão.
A secretaria esclarece ainda que atualmente é verificado se os “flanelinhas” possuem registro profissional da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego. Os que estão cadastrados na Sedest facilitam este trabalho, pois além do colete eles têm que portar um crachá de identificação, que são checados pelos agentes nas fiscalizações, que acontecem pelo menos uma vez a cada 15 dias nos principais estacionamentos da capital.
FONTE: OLHAR DIRETO
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