quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Jornal O POVO debate a questão dos flanelinhas


A abordagem muitas vezes criminosa de alguns flanelinhas está motivando algumas cidades a restringir a presença dessas pessoas. A atuação dos flanelinhas deve ser proibida?

SIM - Quem vive nas médias e grandes cidades já se deparou com a atuação indiscriminada dos flanelinhas. Atuação que expõe vários problemas enfrentados pelo poder público, tais como planejamento urbano, subemprego e violência.

No início de 2009, depois de analisar vários Boletins de Ocorrências (BOs), principalmente registrados por mulheres em alguns cruzamentos na circunscrição do 4º Distrito Policial, fizemos o cadastramento de flanelinhas. A partir do instante em que eles sabiam que seus dados e fotos estavam armazenados na delegacia, o registro de BOs diminuiu muito.

O nível educacional precário dos flanelinhas dificulta que consigam emprego com carteira assinada, povoando cada vez mais as ruas da cidade e causando incômodo em muitos que não concordam com a forma como são por eles abordados. Outro fator que dificulta sua inserção no mercado formal de trabalho é o fato de muitos terem antecedentes criminais.

Dos mais de 100 que foram cadastrados, nenhum tinha vínculo com órgão público, vivendo todos na informalidade. Se houvesse por parte do poder público emprego suficiente para eles, tal fato não aconteceria.

Como não é possível simplesmente acabar com esta situação sem mais nem menos, os flanelinhas deveriam ser cadastrados por um órgão, quem sabe da Prefeitura, em toda Capital, para que, devidamente uniformizados e após separar o joio do trigo, pudessem exercer seu trabalho condignamente, diferente de hoje, quando muitos amedrontam e ameaçam as pessoas, intimidando-as quando não pagam o que é pedido.

Deveria haver um cadastro dos flanelinhas de cada município nos órgãos de trânsito ou Prefeitura e capacitação para atuar junto à população. O cadastro seria uma forma de obter o número de flanelinhas, controlando suas ações, e, assim, não confundi-los com meliantes. Como estão, em Fortaleza e noutras cidades, sem atuação regulamentada, somos pela proibição dessa atividade.
José Munguba Neto
Delegado de Polícia


NÃO - A atuação do flanelinha deve ser acolhida. Como deve ser amparada toda atividade informal que, pela ausência histórica do poder público, fica na marginalidade, essa linha imaginária que separa o legal ou moralmente aceito do ilegal ou socialmente reprovável.

Ter um estacionamento clandestino pode, mas olhar carro na rua não pode? Lavar o para-brisa no cruzamento não pode, mas ter um lava a jato que lança água suja na galeria pluvial pode? Questões como estas, que povoam o senso comum, são carregadas da desinformação que só aumenta o preconceito e o medo que se tem do flanelinha.

Melhor partir da discussão de que o flanelinha é parte integrante da nossa sociedade e do mercado. É cidadão em busca de ocupação e renda, e é também consumidor a fim de satisfazer desejos e necessidades. Exatamente como eu, como você. E que por isso deve ser alcançado por políticas públicas que o reconheçam como tal. E que o promovam como sujeito de direitos.

O Estado tem que conhecer melhor a atividade do flanelinha. Já há pesquisas sobre, outros estudos podem ser realizados sobre essa mão de obra que guarda e zela o carro, um bem tão valioso quanto a moradia. Quantos são? Onde e como atuam? Para quem? Quanto ganham? Tem que estimular a formalização e organização desses trabalhadores. Tem que dialogar com eles.

Ouvir a cidadania muda dos flanelinhas pode ser um bom começo para corrigir os desvios, que são muitos, só se agravam e já não cabem embaixo do tapete: assaltos no sinal, risco na pintura do carro, apropriação de calçadas e praças, fraude do cartão zona azul, intimidação, constrangimento e extorsão nos lugares onde o Estado não está.

A negligência do Estado no seu papel de proteger mas também de punir, a ignorância do mercado sobre uma de suas expressões e a intolerância da sociedade da injustiça e da exclusão é que devem ser banidas.
Luiza PerdigãoSecretária Municipal da Secretaria Executiva Regional do Centro

FONTE: O POVO

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