A abordagem muitas vezes criminosa de
alguns flanelinhas está motivando algumas cidades a restringir a presença
dessas pessoas. A atuação dos flanelinhas deve ser proibida?
SIM - Quem
vive nas médias e grandes cidades já se deparou com a atuação indiscriminada
dos flanelinhas. Atuação que expõe vários problemas enfrentados pelo poder
público, tais como planejamento urbano, subemprego e violência.
No início de
2009, depois de analisar vários Boletins de Ocorrências (BOs), principalmente
registrados por mulheres em alguns cruzamentos na circunscrição do 4º Distrito
Policial, fizemos o cadastramento de flanelinhas. A partir do instante em que
eles sabiam que seus dados e fotos estavam armazenados na delegacia, o registro
de BOs diminuiu muito.
O nível
educacional precário dos flanelinhas dificulta que consigam emprego com
carteira assinada, povoando cada vez mais as ruas da cidade e causando incômodo
em muitos que não concordam com a forma como são por eles abordados. Outro
fator que dificulta sua inserção no mercado formal de trabalho é o fato de
muitos terem antecedentes criminais.
Dos mais de
100 que foram cadastrados, nenhum tinha vínculo com órgão público, vivendo
todos na informalidade. Se houvesse por parte do poder público emprego
suficiente para eles, tal fato não aconteceria.
Como não é
possível simplesmente acabar com esta situação sem mais nem menos, os
flanelinhas deveriam ser cadastrados por um órgão, quem sabe da Prefeitura, em
toda Capital, para que, devidamente uniformizados e após separar o joio do
trigo, pudessem exercer seu trabalho condignamente, diferente de hoje, quando
muitos amedrontam e ameaçam as pessoas, intimidando-as quando não pagam o que é
pedido.
Deveria haver
um cadastro dos flanelinhas de cada município nos órgãos de trânsito ou
Prefeitura e capacitação para atuar junto à população. O cadastro seria uma
forma de obter o número de flanelinhas, controlando suas ações, e, assim, não
confundi-los com meliantes. Como estão, em Fortaleza e noutras cidades, sem
atuação regulamentada, somos pela proibição dessa atividade.
José Munguba Neto
Delegado de Polícia
NÃO - A
atuação do flanelinha deve ser acolhida. Como deve ser amparada toda atividade
informal que, pela ausência histórica do poder público, fica na marginalidade,
essa linha imaginária que separa o legal ou moralmente aceito do ilegal ou
socialmente reprovável.
Ter um
estacionamento clandestino pode, mas olhar carro na rua não pode? Lavar o
para-brisa no cruzamento não pode, mas ter um lava a jato que lança água suja
na galeria pluvial pode? Questões como estas, que povoam o senso comum, são
carregadas da desinformação que só aumenta o preconceito e o medo que se tem do
flanelinha.
Melhor partir
da discussão de que o flanelinha é parte integrante da nossa sociedade e do
mercado. É cidadão em busca de ocupação e renda, e é também consumidor a fim de
satisfazer desejos e necessidades. Exatamente como eu, como você. E que por
isso deve ser alcançado por políticas públicas que o reconheçam como tal. E que
o promovam como sujeito de direitos.
O Estado tem
que conhecer melhor a atividade do flanelinha. Já há pesquisas sobre, outros
estudos podem ser realizados sobre essa mão de obra que guarda e zela o carro,
um bem tão valioso quanto a moradia. Quantos são? Onde e como atuam? Para quem?
Quanto ganham? Tem que estimular a formalização e organização desses
trabalhadores. Tem que dialogar com eles.
Ouvir a
cidadania muda dos flanelinhas pode ser um bom começo para corrigir os desvios,
que são muitos, só se agravam e já não cabem embaixo do tapete: assaltos no
sinal, risco na pintura do carro, apropriação de calçadas e praças, fraude do
cartão zona azul, intimidação, constrangimento e extorsão nos lugares onde o
Estado não está.
A negligência
do Estado no seu papel de proteger mas também de punir, a ignorância do mercado
sobre uma de suas expressões e a intolerância da sociedade da injustiça e da
exclusão é que devem ser banidas.
Luiza PerdigãoSecretária Municipal da
Secretaria Executiva Regional do Centro
FONTE: O POVO
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